segunda-feira, 22 de julho de 2013

Colcha de tear




Colcha de tear

       Ganhei de presente duas colchas de tear, uma feita pela minha avó Francisca Júlia da Silveira (vó Chiquinha) e outra pela minha bisavó Melvira Querubina da Silva. Uma destas colchas é de 1940 e foi minha madrinha Zélia filha da vó Chiquinha quem me deu, a outra, de 1960, foi minha bisavó Melvira quem me presenteou no meu nascimento. Minha alegria é tamanha em poder tocar e cobrir com algo feito pelas mãos de mulheres tão importantes em minha vida. Então, comecei a investigar com minha madrinha e meus pais como eram feitas essas colchas.
       Hoje é tudo muito fácil, coloca-se o carneiro e o pé de algodão de um lado da máquina e do outro lado saem as colchas prontas em diversas cores, o bife de carneiro temperado, o couro curtido e a semente do algodão empacotada pronta para o plantio, quase como um passe de mágica.
       Antigamente plantavam as sementes, depois colhiam o algodão e retiravam os caroços (sementes). Depois, o algodão era limpo manualmente (cardado) com uma escova de aço retangular cheia de pontinhas (carda) e se transformava em grossas mechas de mais ou menos dois palmos. Os carneiros eram criados nas fazendas, tinham que ser lavados e colodos dentro do celeiro para secar para não se sujarem novamente. A lã era cortada deles (tosquiada) e passava pelo mesmo processo de limpeza do algodão. Aí então, essas mechas eram passadas na roda de fiar, produzindo um fio uniforme e torcido, o qual era enrolado na dobadeira e assim transformado em meadas.
      Preparavam tintas caseiras retiradas da flor da quaresminha, de alguns frutos e de plantas diversas. Essas meadas eram fervidas nesta água de tinta por horas e depois eram colocadas para secar. Quem presenciou esse processo lembra-se dos arco-íris que eram os varais durante a secagem das multicoloridas meadas. O engraçado disso era que as pessoas que tingiam as meadas cada dia estavam com as mãos de uma cor diferente, sem contar a quantidade de calos pelo processo repetitivo. Enrolavam os fios em novelos para depois começarem o processo de tecer a colcha no tear, que era feito basicamente de madeira. Hora por vez, esses novelos caíam das mãos e desenrolavam horas de serviços e ainda corriam o risco de sujar. Esse processo era todo artesanal e lento, além de ser muito trabalhoso manobrar o tear. As pessoas utilizavam muito os braços e as pernas, o que fazia com que muitas vezes tivessem as veias das pernas arrebentadas. As filhas e filhos de minha bisavó Melvira e de minha avó Chiquinha sabem muito bem como é trabalhoso todo esse processo, todos na casa ajudavam de alguma forma, inclusive as crianças.
       Com certeza essas colchas vão passar de mão em mão por muito tempo ainda, pois o material do qual elas foram tecidas é de ótima qualidade, não sendo descartáveis como as industrializadas.

        A mim coube a melhor parte desse processo, contar a história e cobrir com essas colchas sentindo que as mãos de minhas avós e tias estão a me abençoar em uma ótima noite de sono.

Kennedy Pimenta

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